Era pescando sob a sombra de um pé de amora que dona Odete Macedo, de 62 anos, curtia a aposentadoria às margens do reservatório de Paraibuna, no Vale do Paraíba paulista. As águas que levavam os peixes para perto da senhorinha eram as mesmas que abasteciam tranquilamente as casas de 14 milhões de pessoas — sendo 90% do Estado do Rio e parte de São Paulo e Minas Gerais. A falta de chuvas, no entanto, estragou esse cenário perfeito: o nível da represa caiu tanto que dona Odete agora precisa andar 25 minutos para chegar perto da água. Já o abastecimento terá que ser feito com o volume morto da represa — ou seja, uma reserva que nunca na história do Rio precisou ser usada.
— Dá até medo de ver tanta água que sumiu — suspira dona Odete.
O volume morto do reservatório do Paraibuna tem 2 bilhões de metros cúbicos. Com o auxílio dos outros três reservatórios que formam a Bacia do Paraíba (Santa Branca, Jaguari e Funil), os 14 milhões de habitantes têm água, no máximo, até o fim de 2015, segundo o secretário-geral do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), Tarcísio José Souza e Silva. No próximo verão, se as chuvas não voltarem com regularidade, as regiões atendidas vão sofrer com a falta d’água, a exemplo do que São Paulo enfrenta desde novembro de 2014.
Tarcísio José Souza e Silva afirma que vão precisar cinco anos com chuvas mais altas do que a média para a recuperação do nível normal.
— O volume do consumo não se alterou nos últimos anos. O problema é a falta de chuva — aponta o gestor.
A população de Paraibuna acompanha atenta a queda do volume da represa. O empresário Marlon de Almeida Soares, de 29 anos, tem um restaurante à beira da represa e viu os clientes secarem junto com as águas. O movimento caiu cerca de 50% a reboque do nível da represa. O cultivo de tilápias também secou pela metade, já que é arriscado de o volume descer mais e matar os peixes.
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