A fase não é boa no basquete do Flamengo. Não bastasse a campanha irregular - é apenas o quarto colocado - dentro de quadra no NBB, o time que ganhou tudo na última temporada vive momento turbulento fora das quadras. E a situação ficou exposta na noite da última quinta-feira, no ginásio do Tijuca Tênis Clube. Enquanto o Rubro-negro vencia o Uberlândia por 91 a 58, a diretoria estudava o futuro do ala Marcelinho, vetado da partida por "problemas internos", segundo versão oficial do clube.
Principal jogador da vitoriosa história recente do basquete da Gávea, o jogador foi afastado daquela que seria sua partida de número 200 no NBB por conta de uma intensa discussão com o treinador José Neto na última terça-feira, depois da vitória sobre o Minas Tênis Clube.
Desgastado com comissão técnica e diretoria, Marcelinho não gostou de mais uma vez começar o jogo no banco de reservas e, após 17 minutos jogados e nenhum ponto marcado, partiu para cima de Neto no vestiário. Com xingamentos pesados, chamou o treinador de "merda" por várias vezes na presença de companheiros e membros da diretoria. Os dois quase chegaram a trocar agressões. E a briga só não foi maior graças a intervenção de jogadores.
Inconformados, o diretor executivo de esportes olímpicos, Marcelo Vido, e o vice-presidente da pasta, Alexandre Póvoa, decidiram por retirar Marcelinho do jogo de quinta. E a punição não para por aí. Os dirigentes ainda marcaram uma reunião para esta sexta-feira: na pauta, uma possível demissão de Marcelinho.
Vido e, principalmente, Póvoa não se conformaram com a maneira como o atleta se dirigiu ao treinador, quebrando uma hierarquia. No entanto, a dupla também sabe que seria difícil repor o elenco após a possível saída do camisa 4. A falta de opções no mercado pode acabar "salvando" uma demissão que chegou a ser dada como certa.
A atitude de Marcelinho foi o estopim de uma guerra fria nos bastidores iniciada em janeiro de 2013, quando a atual gestão assumiu o clube. Extremamente ligado a ex-presidente Patrícia Amorim, o camisa 4 do basquete rubro-negro nunca foi visto com bons olhos pela gestão de Vido, Póvoa e do mandatário atual, Eduardo Bandeira de Mello.
No início do mandato, o grupo, inclusive, estudava não renovar o caro contrato de Marcelinho, que recebe cerca de R$ 80 mil mensais. No entanto, o bom rendimento em quadra e a idolatria das arquibancadas impediram tal decisão. Ambas as partes, então, continuaram se "aturando", mas sem maiores demonstrações de carinho.
O clima ficou ainda pior quando Marcelinho assumiu o papel de líder do elenco e fez duras cobranças à diretoria sobre salários e prêmios de 2014 que não foram pagos - alguns estão em aberto até hoje. O jogador era sempre o porta-voz do elenco nas negociações por atrasados.