terça-feira, 30 de junho de 2015

Karl Bushby: Em 1998 ele saiu para dar uma volta ao mundo…a pé! (e ainda não voltou)


Independente de onde você estava ou o que estava fazendo no dia 1º de novembro de 1998 , provavelmente não era nada parecido com o que fez Karl Bushby. Para ele foi um dia extraordinário, foi o dia em que ele partiu… e nunca mais voltou, ou pelo menos ainda não!   Ele está há 17 anos na estrada a caminho de casa, na expedição que batizou de Goliath Expedition.
Hoje, Bushby tem 46 anos de idade, mas em novembro de 1998 ele ainda era um jovem de 29 anos. O ex-pára-quedista do exército britânico deu o primeiro passo a partir de Punta Arenas no Chile e embarcou em uma jornada ininterrupta de 60.000 km ao redor do mundo – a pé.   E Bushby não tem nenhuma intenção de parar até que ele complete o percurso de volta à sua cidade natal, Hull, na Inglaterra.
Karl Bushby no início de sua caminha no Chile em 1998. - Foto: arquivo pessoal
Karl Bushby no início de sua caminha no Chile em 1998. – Foto: arquivo pessoal
O plano original o levaria por todo o continente americano até o Alasca. De lá, ele iria atravessar o Estreito de Bering, que separa o Alasca da Rússia. Da Rússia, a viagem iria levá-lo a cruzar o maior país do mundo até chegar a China e de lá ao Cazaquistão para depois cortar a Europa Oriental. E a partir daí seria apenas um ano ou mais para chegar em Calais na França, onde ele iria caminhar pelo Eurotúnel que liga a Inglaterra à França. E toda a viagem, pelos cálculos de Karl, levaria cerca de oito anos.
No entanto, isso foi só o plano.  Durante a caminhada obviamente aconteceu de tudo um pouco, e Bushby passou por todos perrengues e contratempos possíveis. Ele começou sua viagem com algumas centenas de dólares,  com cerca de cem libras de suprimentos dentro do carrinho que fez para acompanhá-lo durante o percurso e alguns equipamentos que a National Geographic havia doado para que ele pudesse documentar sua jornada.  Depois de uma semana após partir de Punta Arenas, no Chile, as unhas dos seus pés começaram a cair, ele quase morreu de fome na Patagônia.  Sobreviveu a uma tempestade de areia no Peru. Depois de alguns anos de caminhada, ele chegou à fronteira entre a Colômbia e o Panamá, e não teve escolha, meteu as caras em  Darién Gap que é um do lugares mais perigosos do mundo, uma selva fechadíssima com guerrilheiros, traficantes e paramilitares.  Ele nadou em rios infestados de crocodilos e foi preso por duas semanas no Panamá por não ter formalizado a entrada no país.  Em seguida, enfrentou a travessia entre o Alasca e a Rússia- o Estreito de Bering.  O Estreito de Bering tem um pouco mais de 80 km de largura e é o inferno congelado na Terra, principalmente para quem está viajando a pé . Bushby chegou no Alasca em março de 2006, acompanhado pelo aventureiro francês Dimitri Kieffer, e caminhou por uma rota de 240 km através de blocos de gelo quebrados, até chegar na cidade russa de Chutotka.
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Karl Bushby curtindo uma “zona de conforto” no Estreito de Bering. Foto: Arquivo Pessoal

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Karl Bushby e Dimitri Kieffer – Foto: Arquivo pessoal

Foi quando começou o pesadelo de Bushby e a burocracia russa transformou a expedição em uma novela.  Ele  foi preso por ter entrado sem saber em uma área militar e foi então extraditado para o México.   De lá seus parceiros tiveram que contratar um advogado para pedir ao governo Russo que o deixasse completar o percurso.
Em 16 de março de 2007, Karl conseguiu o visto e a permissão especial necessária das autoridades russas para percorrer a região, e começou a se preparar para a segunda metade da expedição. Ele andaria a primeira etapa desta fase para Yakutsk , e juntamente com seu amigo Dimitri,  cumpriram mais de 1.000 km de Uelen para Dvoynoye e assim retornaram para o Alasca, quando o visto venceu.
13 de Julho - O início da caminhada de 5.000 KM de Karl Bushby que partiu de Los Angeles para a embaixada russa em Washington, DC Foto: Megan Morr / Washington Post
13 de Julho – O início da caminhada de 5.000 KM de Karl Bushby que partiu de Los Angeles para a embaixada russa em Washington, DC Foto: Megan Morr / Washington Post
Karl Bushby em Lavrentiya, Russia -  Imagem feita em 10 de fevereiro de 2006 Foto:  GOLIAT EXPEDITION/AFP
Karl Bushby em Lavrentiya, Russia – Imagem feita em 10 de fevereiro de 2006 Foto: GOLIAT EXPEDITION/AFP
Em 2008, ele só andou por três semanas, até chegar em Bilibino na Russia, mas já era tarde demais, mesmo com o visto renovado, a época coincidiu com o período que a neve começa a desaparecer , e ele não pôde continuar porque a área é cheia de pântanos e rios, área impossível de penetrar a pé quando não congelada. Seu visto só valia por 90 dias e após esse tempo deveria ficar fora do país por 180 dias para então obter novamente outro visto. Depois disso ele teria entrado e saído do país tentando cumprir o percurso com apenas com o tempo de cada visto e por conta das indas e vindas em março de 2013 a Rússia proibiu Karl de voltar a entrar no país por 5 anos e após esse entrevero, Bushby voltou ao México.
Enquanto estava no México, Bushby foi contatado por Beau Williams e Jordan Tappis, fundadores da Westward Productions, que tiveram a ideia de fazer um filme dele atravessando todos os EUA, a partir de Los Angeles para ir até a embaixada russa em Washington, DC, onde ele apelaria sobre a proibição imposta pelo governo Russo. E lá foi ele que enfim conseguiu a autorização do governo russo para continuar a expedição.
O resultado dessa aventura de 12 meses por todo o território americano, é o tema do documentário “The Walk Around the World” , que foi exibido no National Geographic Channel nos EUA (que você pode conferir no trailer abaixo).
Atualmente, Bushby está em Berlim e retomou sua caminhada para terminar os últimos meses a pé em território Russo, mas a novela do visto de 90 dias continua e ele depende das condições climáticas e fará o zigue zaguear mais uma vez até terminar essa fase da jornada.
No livro Giant Steps: The Remarkable Story of the Goliath Expedition From Punta Arenas to Russia ele conta como foi a jornada de Punta Arenas até Russia nos seus quase 18 anos de viagem.
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