domingo, 15 de maio de 2016

Por que os evangélicos de Temer festejam a morte do Ministério da Cultura. Por Hermes Fernandes


Apesar de aclamado por boa parte do segmento evangélico, sobretudo entre os pentecostais, Silas Malafaia se sente credenciado para expor a comunidade evangélica brasileira a mais um vexame diante de toda a sociedade. Razão pela qual muitos já preferem não se identificar como evangélicos.
Não bastasse sua postura anticientífica em sua defesa do criacionismo clássico, ignorando todas as evidências que apontam para a veracidade da teoria da evolução; não bastasse sua cruzada contra a comunidade LGBT que já lhe rendeu o título de “inimigo número 1” dos gays; agora, o líder das Assembleias de Deus Vitória em Cristo resolve eleger a cultura como o novo alvo de seu ataque, como demonstrado no tweet abaixo:
malafaia

Acredito que ele não imaginava a repercussão que teria seu comentário. Em plena sexta-feira 13, o pastor Silas Malafaia celebrou o enterro da cultura.
Enquanto boa parte da sociedade lamenta a decisão do presidente interino de encerrar as atividades do Ministério da Cultura, Malafaia presta o desserviço de fazer tal comentário, reforçando o estereótipo de que evangélicos sejam alienados, anacrônicos, contrários a todo tipo de avanço social e cultural.
Abaixo, outros tweets do renomado pastor.
– FALA AÍ ! Pede para o novo min da educação e cultura, Mendonça filho, para limpar o ministério desses esquerdopatas q ideologizaram tudo.
– MINISTRO MENDONÇA, põe a companheirada toda na rua, q mamava nas tetas do ministério. LIVRA O BRASIL DESSA CAMBADA. XÔ, FORA ESQUERDOPATAS!
– AVISA AOS ESQUERDOPATAS > Acabou a boquinha no ministério da cultura. Não adianta pressionar , a sopa acabou

Para sua tristeza, esta sexta-feira treze entra para a história como o dia em que o novo ministro Mendonça Filho foi recebido sob protestos e gritos de gospista pela turba enfurecida.
Não é somente a classe artística que está de luto. Qualquer ser humano dotado de sensibilidade se sente profundamente insultado com tal medida. Sim, é mais do que luto. É um insulto. E, como evangélico, sinto-me ultrajado por ver um representante proeminente deste segmento sendo o coveiro deste funeral.
Quem sabe agora, com a cultura em baixa, a subcultura gospel consiga se sobressair? Quem sabe, cinemas e teatros que cerrarem suas portas poderão ser comprados a preço de banana por esses ministérios megalomaníacos.
Pelo jeito, estamos mesmo a caminho de um Talibã Evangélico. Se continuar assim, já, já, veremos o anúncio do fim do Carnaval, do Parintins, do Boi-Bumbá e de outras celebrações populares que tanta alegria têm dado ao nosso tão sofrido povo.
Diferentemente desses porta-vozes do divino, Jesus realizou Seu primeiro milagre para que a festa não terminasse antes da hora. Se fossem esses estraga-prazeres, em vez de transformar água em vinho, teriam sabotado a festa, transformando o vinho em refresco do mais aguado e sem graça.
O Cristo que emerge das páginas do Novo Testamento não é contra a ciência, nem contra qualquer segmento social, muito menos contrário à cultura de um povo. Que bom seria se os líderes da igreja evangélica brasileira deixassem de ser discípulos de Olavo de Carvalho e se tornassem verdadeiramente discípulos de Jesus.
Se deixassem de ser assombrados pelo fantasma do comunismo e passassem a enxergar em cada manifestação cultural a silhueta de Cristo, mesmo entre o nevoeiro de nossos preconceitos idiotas.
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